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Quem sou eu

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Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: - E daí? Eu adoro voar! Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre Clarice Lispector

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Quixoteando Alcyr Guimaraes

QUIXOTEANDO !
Sou eu este Dom Quixote,que tropeça em tuas saias,
te vê como rainha que então coroei.
Faminto por batalhas,de espadas e navalhas,
o mundo me atrapalha e enfím despertei
Quando dormi,antes ,tentei e até pensei
que éra real,e eu éra o tal,quando acordei.
E numa noite longa,baldia como a vida,
sentindo a minha lida que eu tenho e cansei.
Quem me fez cavaleiro,sem honras e sem dinheiro,
patético aventureiro que eu mesmo criei.
Quando dormi,pensei,sonhei e até errei.
que eu éra o tal,quase real,quando acordei.
E por tantas donzelas de suspiros e desmaio,
fiz-me aventureiro,cavalheiro e lacaio.
E por tantas damas que fui defender,
foi-me negado honra,nobreza e prazer.
Sou este este Dom Quixote,
de poesia mal acabada
se a vida me condena e eu sigo assim.
buscando minha amada,que um dia ficou guardada,
em alguma ilha encantada,
coitado de mim.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

E Ela Tinha.... suspirado
Tinha beijado o papel devotamente.
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades
E o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas
Como um corpo ressequido que se estira num banho tépido.
Sentia um acréscimo de estima por si mesma,
E parecia-lhe que entrava enfim
Numa existência superiormente interessante
Onde cada hora tinha o seu encanto diferente
Cada passo conduzia a um êxtase
E a alma se cobria de um luxo radioso de sensações
joão higino filho

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

São Jorge

Eu já entrei vinte vezes no escritório do psicanalista
Depois paguei ao médico e depois fui ao dentista
Para ver o que eu tenho e não consigo dizer.
Perguntei a toda gente que passava na rua
Ao patrão, à minha sogra, à São Jorge na lua
Mas nenhuma dessa gente conseguiu me responder.
Por causa disso eu fui pra casa e fiquei pensando
Se era eu que estava errado com as minhas maluquices
Ou se era o mundo todo que estava me enganando.
Arrumei as malas
Deixei as perguntas na gaveta
Procurei saber o horário do próximo cometa
Me agarrei em sua cauda e fui morar noutro planeta.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo,
já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir
minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono,
já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram,
já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou,
já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade...
Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo.
Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram...
Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer: - E daí?
EU ADORO VOAR!

sábado, 15 de agosto de 2009

Clarice

Rifa-se um coração
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insisteem pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está umpouco usado, meio calejado, muito machucadoe que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desistede acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coraçãoque acha que Tim Maia estava certo quando escreveu..."...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,é isso que eu espero...".
Um idealista...
Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nomede causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional que abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimase faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,ou mesmo utilizadopor quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendempassar pela vida matando o tempo,defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas:"O Senhor pode conferir.
Eu fiz tudo certo,só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusara cultivar ares selvagens ou racionais,por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,mesmo estando fora do mercado,faz questão de não se modernizar,mas vez por outra,constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e a ter a petulância de se aventurar como poeta

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

GARDNER

...O homem transformador, consciente e crítico, capaz de fazer do seu conhecimento e sua inteligência uma "ferramenta" para compreender a natureza e sua interação com a vida humana, é uma pessoa feliz..

terça-feira, 11 de agosto de 2009

"Alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém."

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

[Quem Sabe um Dia]
Quem Sabe um Dia
Quem sabe um dia
Quem sabe um seremos
Quem sabe um viveremos
Quem sabe um morreremos!
Quem é que
Quem é macho
Quem é fêmea
Quem é humano, apenas!
Sabe amar
Sabe de mim e de si
Sabe de nós
Sabe ser um!
Um dia
Um mês
Um ano
Um(a) vida!
Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois
Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois
Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois
Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois
Mário Quintana

sábado, 8 de agosto de 2009

Clarice Lispector

" ..liberdade é pouco o que eu desejo ainda não tem nome.."

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Quero ignorado, e calmo
Por ignorado, e próprio
Por calmo, encher meus dias
De não querer mais deles.
Aos que a riqueza toca
O ouro irrita a pele.
Aos que a fama bafeja
Embacia-se a vida.
Aos que a felicidade
É sol, virá a noite.
Mas ao que nada espera
Tudo que vem é grato
.Fernando Pessoa

quarta-feira, 5 de agosto de 2009


A alma é uma coleção de belos quadros adornecidos, os seus rostos envolvidos pela sombra. Sua beleza é triste e nostálgica porque, sendo moradores da alma, sonhos, eles não existem do lado de fora. Vez por outra, entretanto, defrontamo-nos com um rosto (ou será apenas uma voz, ou uma maneira de olhar, ou um jeito da mão...) que, sem razões, faz a bela cena acordar. E somos possuídos pela certeza de que este rosto que os olhos contemplam é o mesmo que, no quadro, está escondido pela sombra. O corpo estremece. Está apaixonado.Acontece, entretanto, que não esxiste coisa alguma que seja do tamanho do nosso amor. A nossa fome de beleza é grande demais.(...)Cedo ou tarde descobrirá que o rosto não é aquele. E a bela cena retornará à sua condição de sonho impossível da alma. E só restará a ela alimentar-se da nostalgia que rosto algum poderá satisfazer...Rubem Alves

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

As Mascaras

Raros são aqueles que conseguem romper as máscaras sobrepostas à face ao longo da vida e - dos umbrais da própria consciência - contemplar desapegadamente as dores e os amores acondicionados em essência, transmutando-os num benefício maior.Maria Aparecida Giacomini Dóro
A Arte de Engolir Sapos

Rubem Alves
O Adão, meu amigo, professor de biologia, já encantado, amava os sapos.Dedicou sua vida a estudá-los. Estudava e admirava. Era capaz de identificá-los não só por sua aparência física como também pelo seu canto.Acho que o Adão achava os sapos bonitos. E é certo que eles têm uma beleza que lhes é peculiar. O filósofo Ludwig Feuerbach diria que para os sapos não existe nada mais belo que o sapo e, se entre eles houvesse teólogos, haveriam de dizer que Deus é um sapo. Cada forma de vida é o Bem Supremo para si mesma.
Eu mesmo, sem ter a sensibilidade do Adão, escrevi um livro para crianças em que um dos heróis é o sapo Gregório. Mas desejo confessar que não acho os sapos bonitos. Bonita eu acho a sua cantoria durante a noite, a despeito da sua falta de imaginação e monotonia. Mas o que ela perde em riqueza estética é plenamente compensado pelo seu poder hipnótico, o que é bom para fazer dormir.
Mas o fato é que nós, humanos, não consideramos os sapos como animais com que gostaríamos de conviver. Ter um cãozinho, um gato ou um coelho como bichinho de estimação, tudo bem. Mas se o menino quisesse ter um sapo como bichinho de estimação, os pais tratariam de leva-lo logo a um psicólogo para saber o que havia de errado com ele. Sapo é bicho de pesadelo.
Quem sugere isso são as Escrituras Sagradas. Está relatado, no capítulo oitavo do livro de Êxodo que Deus, para dobrar a obstinação do faraó egípcio que não queria deixar que o povo de Israel se fosse, enviou-lhe uma série de pragas de horrores, uma delas sendo a dos sapos. Diz o texto que a praga era de rãs, mas não faz muita diferença. “Eis que castigarei com rãs todos os teus territórios, o rio produzirá rãs em abundância, que subirão e entrarão em tua casa, no teu quarto de dormir, e sobre o teu leito, e nas casas dos teus oficiais, e sobre o teu povo, e nos teus fornos e nas tuas amassadeiras. ” Já imaginaram o horror? A gente entra debaixo das cobertas e sente o frio das rãs que lá estão. Morde o pão e dentro dele está uma rã assada.
Nas estórias infantis é a mesma coisa. A bruxa poderia ter transformado o príncipe numa girrafa, num tatu ou num gato. Escolheu transformá-lo no mais nojento, um sapo. E há aquela estória em que o sapo queria dormir na cama com a princesinha. Tão horrorizada ficou de ter de dormir com um sapo que ela, para evitar os beijos e seus desenvolvimentos inevitáveis, pegou-o pela perna e o jogou contra a parede. Esse ato teve efeito mágico pois que, ao cair no chão, o sapo transformou-se em príncipe. Já aconselhei pessoas a lançar contra a parede seus sapos e sapas conjugais, para ver se o contra-feitiço funciona também para os humanos. Parece que não.
O horror do sapo parece também numa sugestiva expressão popular: “ter de engolir sapo”. Por que não “ter que engolir gato”, “ter de engolir borboleta”, “ter de engolir tico-tico”? Porque mais nojento que sapo não existe.
Essa expressão traz o sapo para o campo das atividades alimentares. Engolir é comer. O ato de comer é presidido pelo paladar. O paladar é uma função discriminatória. Ele separa o saboroso do não saboroso. O saboroso é para ser engolido com prazer. O não saboroso, o corpo se recusa a comer. Cospe. “Ter engolido sapo”: ser forçado a colocar dentro do corpo aquilo que é nojento, repulsivo, viscoso, frio, mole.
Não há forma de engolir sapo com prazer. Engolir um sapo é ser estuprado pela boca. Há um ditado inglês que diz: “If you are going to be raped, and there is nothing you can do about it, relax and enjoy it” : se você vai ser estuprado e você não pode fazer nada para impedi-lo, relaxe e trate de gozar o mais que puder. Esse ditado sugere a possibilidade de se sentir prazer em ser estuprado. Pode até ser. A psicanálise me ensinou a aceitar a possibilidade dos mais estranhos prazeres perversos. Mas não há relaxamento que faça do ato de engolir sapo uma experiência prazerosa.
Por que engolir um sapo?
Há pessoas que engolem sapos por medo. Bem que seria possível evitar a repulsiva refeição: o sapo é um sapinho. Mas elas preferem engolir o sapo a enfrentá-lo. Não têm coragem de pegá-lo e jogá-lo contra a parede. Pessoas que fizeram do ato de engolir sapos um hábito acabam por ficar parecidas com eles: andam aos pulos, sempre rente ao chão e coaxam monotonamente.
Mas há situações em que é inevitável engolir o sapo. Eu mesmo já engoli muitos sapos e disto não me envergonho. O meu desejo, com esta crônica, é dar uma contribuição ao saber psicanalítico, que até agora fez silêncio sobre o assunto. Muitos dos sintomas neuróticos que afligem as pessoas resultam de sapos engolidos e não digeridos.
Tudo começa com um encontro: à minha frente um sapo enorme, ameaçador, com boca grande. A prudência me diz que é melhor engolir o sapo a ser engolido por ele. É melhor ter um sapo dentro do estômago(sapos engolidos nunca vão além do estômago) do que estar no estômago do sapo.
Aí, impotente e sem ações, deixo que ele entre na minha boca, aquela massa mole nojenta. É muito ruim. O estômago protesta, ameaça vomitar. Explico-lhe as razões. Ele cessa os seus protestos, resignado ao inevitável. Não consigo mastigar o sapo. Seria muito pior. Engulo. Ele escorrega e cai no estômago.
Alimentos não digeríveis são eliminados pelo aparelho digestivo de duas formas: ou são expelidos pelo vômito ou são expelidos pela diarréia. Os sapos são uma exceção. Não são digeridos mas não são nem expelidos pelas vias superiores e nem pelas vias inferiores. Os sapos se alojam no estômago. Transformam-no em morada. Ficam lá dentro. Por vezes hibernam. Mas logo acordam e começam a mexer.
Ninguém engole sapo de livre vontade. Engole porque não tem outro jeito. Tem sempre alguém que nos obriga a engolir o sapo, à força. A pessoa que nos obriga a engolir o sapo, a gente nunca mais esquece. Diz a Adélia que “aquilo que a memória amou fica eterno”. Aí eu acrescento algo que aprendi no Grande Sertão. Conversa de jagunços matadores. Diz um: “Mato mas nunca fico com raiva”. Retruca o outro, espantado: “Mas como?” Explica o primeiro: “Quem fica com raiva leva o outro para a cama.” É isso. A gente leva, para a cama, a pessoa que nos obrigou a engolir o sapo. A raiva também eterniza as pessoas. Não adianta falar em perdão. A gente fica esperando o dia em que ela também terá de engolir um sapo. Ou como dizia uma propaganda antiga de loteria, a gente reza: “O seu dia chegará...” (O amor que acende a lua, pg. 105.)